Esta sim, foram doze dias e doze noites nuns montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e... a história de uma vaca que se perdeu nos campos coma a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, foi obrigada a defender-se e defende o filho, uma longuíssima batalha, agonia de viver no limiar da morte... aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mae, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam... ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia... por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, mataram-na, nao os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal nao poderia parar nunca mais.
(José Saramago, A viagem do elefante, Caminho, 2008)
Xa Castelao falaba da vaca como un dos símbolos de Galicia, Manuel Rivas fíxoa protagonista de Un millón de vacas. É agora un dos narradores máis coñecidos (desde o seu Nobel) que lle fai esta fermosa homenaxe á vaca galega, un lindo canto á liberdade, á loita por ser.
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